Gás pode ter novo reajuste: veja regras e os impactos para famílias, comércio e indústria
Um novo aumento no preço do gás — tanto o gás de cozinha (GLP) quanto o gás natural — pode ser anunciado nas próximas semanas. Com os impactos sentidos da cozinha de casa às linhas de produção industrial, a possível alta reacende o debate sobre os critérios que definem os reajustes, os limites regulatórios e o alcance das políticas públicas voltadas aos consumidores mais vulneráveis.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os preços do gás operam sob regime de liberdade tarifária desde 2002. A ANP não fixa valores, mas fiscaliza e exige transparência das distribuidoras sobre os preços aplicados, por meio de resoluções específicas como a Resolução 795/2019 e a Portaria 297/2001.
Gás natural: contratos e reajustes trimestrais
No caso do gás natural, usado por indústrias e no transporte público em alguns estados, os preços são reajustados trimestralmente pela Petrobras, com base na cotação internacional do petróleo tipo Brent e na variação do dólar. Em julho deste ano, a estatal anunciou uma redução média de 14% no preço da molécula para as distribuidoras, refletindo a queda do petróleo e a valorização do real frente ao dólar.
Apesar disso, especialistas alertam que novos ajustes podem ocorrer em agosto, dependendo da variação cambial e da demanda no mercado internacional. A tendência de aumento também está sendo acompanhada por distribuidoras estaduais como a Comgás, Naturgy e Bahiagás, que costumam repassar os custos ao consumidor final após análise dos contratos.
GLP: impacto direto nas famílias e no comércio
No gás liquefeito de petróleo (GLP), popularmente conhecido como gás de cozinha, o impacto é ainda mais sensível. Desde o início de 2025, o botijão de 13 kg já sofreu aumentos acumulados de até R$ 25 em algumas regiões, como aponta reportagem do Capital News.
Esses aumentos estão ligados à nova estratégia da Petrobras, que passou a realizar leilões com preço mínimo mais elevado para o fornecimento de GLP às distribuidoras. A mudança resultou em repasses diretos aos consumidores, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde o custo logístico e a dependência do produto envasado são maiores.
Indústria e comércio: cadeia produtiva sob pressão
Para o setor industrial, o aumento do gás representa alta nos custos de produção. Indústrias de vidro, cerâmica, alimentos e metalurgia utilizam gás natural como insumo crítico e veem o reajuste como um risco à competitividade. O BTG Pactual alertou que mudanças regulatórias em estudo pela ANP, como a possibilidade de envase fracionado do GLP, podem gerar insegurança e reduzir os investimentos no setor.
No comércio, o impacto é sentido especialmente em padarias, restaurantes, lavanderias e outros pequenos negócios, que dependem do GLP diariamente. A elevação do custo operacional pode pressionar os preços finais ao consumidor e alimentar o ciclo inflacionário em setores de alta rotatividade.
Programas sociais e limites de alcance
Para tentar mitigar os efeitos da inflação do gás sobre as famílias de baixa renda, o governo federal mantém o programa Vale Gás, que cobre até 100% do valor médio nacional do botijão de 13 kg. No entanto, a cobertura ainda é limitada e não acompanha automaticamente os reajustes de preço.
Além disso, o novo programa “Gás para Todos”, previsto para distribuir 17 milhões de botijões até 2027, ainda não foi regulamentado via medida provisória. A previsão inicial era de início das entregas no primeiro semestre, mas o cronograma sofreu atrasos.
O que esperar
Apesar das reduções pontuais recentes no gás natural, o mercado continua instável. A combinação entre política de preços da Petrobras, contratos internacionais e alta demanda interna tende a manter o gás como um item de atenção econômica para o restante do ano.
Se novos reajustes forem confirmados em agosto, consumidores residenciais, pequenos empresários e indústrias podem voltar a sentir no bolso um dos reflexos mais visíveis da volatilidade energética no Brasil.
Share this content:
Publicar comentário