Shell critica governo Trump por travar projetos eólicos
Escrito en GLOBAL el
A presidenta da Shell nos Estados Unidos, Colette Hirstius, criticou duramente a decisão do governo Donald Trump de suspender projetos de energia eólica offshore que já haviam sido licenciados.
Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, publicada neste domingo (6), a executiva afirmou que a medida é “muito prejudicial aos investimentos” e pediu mais previsibilidade regulatória no setor energético.
“A incerteza no ambiente regulatório é muito danosa. Projetos com licenças válidas deveriam poder seguir adiante”, disse Hirstius, lembrando que a instabilidade política também ameaça o próprio setor de petróleo e gás.
A fala da executiva contrasta com o discurso do presidente republicano, que tem feito ataques recorrentes à energia eólica — chegando a afirmar, em tom alarmista, que turbinas ameaçam aves, baleias e até a saúde humana. Por isso, é simbólico que uma das maiores petroleiras do mundo se oponha a essa retórica e defenda a continuidade dos projetos limpos.
Shell defende energia limpa e previsibilidade regulatória
Hirstius assumiu a presidência da Shell USA em agosto e também comanda as operações no chamado “Golfo da América” — novo nome do Golfo do México após ordem executiva de Trump em janeiro.
Ela disse que o retorno das licitações anuais de exploração e a redução de royalties foram passos positivos, mas alertou que tarifas impostas pelo próprio governo têm encarecido projetos já aprovados.
“Grande parte do aço e das técnicas de soldagem que usamos não pode ser fabricada nos EUA. Isso não é uma opção”, afirmou, dizendo que a empresa busca isenções tarifárias.
A Shell, maior produtora de petróleo da região, emprega mais de 11 mil pessoas no país e investe cerca de US$ 10 bilhões por ano, seu maior volume global.
Mesmo após o recuo de algumas metas de transição energética desde 2023, Hirstius assegurou que a companhia continuará investindo em energias renováveis sempre que houver viabilidade econômica.
“Queremos participar da transição para a energia limpa, mas precisamos garantir que nossos investimentos sejam sustentáveis”, declarou.
Diversidade e inclusão continuam na pauta
A executiva também reforçou que a Shell não abrirá mão de suas políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), mesmo diante das ofensivas do governo Trump para desmontar esse tipo de iniciativa em órgãos públicos e empresas contratadas pelo Estado.
Desde o início de seu mandato, Trump tem atacado programas de diversidade — chamando-os de “discriminação reversa” e “doutrinação ideológica”.
O republicano já determinou a suspensão de treinamentos corporativos sobre racismo estrutural e igualdade de gênero, alegando que promovem “culpa racial” e “marxismo cultural”. Em discurso recente, ele prometeu “erradicar a cultura do politicamente correto” das instituições dos EUA.
Para Hirstius, tais medidas vão na contramão da cultura corporativa global da Shell, que enxerga a diversidade como fator estratégico de inovação e competitividade.
“A diversidade está no DNA da Shell. É parte da nossa cultura global e da nossa performance. Acreditamos que equipes plurais são mais criativas e produtivas — e não temos intenção de abrir mão disso”, afirmou.
A fala da executiva contrasta diretamente com a postura da Casa Branca, que tem pressionado grandes corporações a reduzirem políticas internas de inclusão. Segundo analistas citados pelo Financial Times, a resistência da Shell reflete uma tentativa de preservar a reputação internacional da empresa em meio à guinada conservadora de Washington.
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar
Share this content:
Publicar comentário