MSF pede fim de esquema de entrega de alimentos bancado por EUA e Israel
Aanálise feita a partir de dados clínicos de Médicos Sem Fronteiras, depoimentos de pacientes e fatos testemunhados por profissionais de saúde em duas clínicas de MSF em Gaza, na Palestina, aponta para violência direcionada e indiscriminada por parte das forças israelenses e de grupos norte-americanos privados contra os palestinos em locais de distribuição de alimentos administrados pela chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês).
Os MSF pedem o fim imediato do esquema da GHF e a restauração do mecanismo de entrega de ajuda coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Também apelamos aos governos, especialmente aos EUA, bem como às instituições doadoras privadas, que suspendam todo o apoio financeiro e político à GHF, cujos locais de atuação são basicamente armadilhas mortais.
Um novo relatório de MSF, intitulado “Não é ajuda, é um massacre orquestrado” (leia em inglês aqui), documenta os horrores testemunhados pela equipe de MSF em duas clínicas que receberam regularmente um grande número de vítimas após a violência em locais administrados pela GHF, um grupo pró-Israel e pró-EUA que militarizou a distribuição de alimentos.
Entre 7 de junho e 24 de julho, foram admitidas 1.380 vítimas, incluindo 28 mortos, nas clínicas de MSF em Al-Mawasi e Al-Attar, no sul de Gaza, localizadas perto dos locais de distribuição administrados pela GHF. Durante essas sete semanas, nossas equipes trataram 71 crianças e adolescentes com ferimentos à bala, 25 delas com menos de 15 anos de idade. Sem alternativas para encontrar comida, famílias famintas frequentemente enviam adolescentes para esse ambiente letal, pois eles são muitas vezes os únicos homens da família fisicamente capazes de fazer o trajeto.

Uma análise inicial dos ferimentos por arma de fogo nos pacientes que chegaram à clínica de Al-Mawasi revelou que 11% das lesões eram na cabeça e no pescoço, enquanto 19% eram em áreas que abrangiam o tórax, o abdômen e as costas. Em contrapartida, as pessoas que chegavam do Centro de Distribuição de Khan Younis eram muito mais propensas a apresentar ferimentos à bala nos membros inferiores. Os padrões distintos e a precisão anatômica dessas lesões sugerem fortemente que se tratam de ataques intencionais contra pessoas dentro e ao redor dos locais de distribuição, e não de tiros acidentais ou indiscriminados.
Em maio, as autoridades israelenses tentaram desmantelar a resposta humanitária liderada pela ONU e substituí-la por um esquema militarizado de distribuição de alimentos operado pela GHF. Todos os quatro locais de distribuição administrados pela GHF estão em áreas sob controle militar total de Israel e “protegidos” por seguranças privados norte-americanos armados.
A GHF tem sido apresentada pelos governos israelense e norte-americano como uma “solução inovadora”. Os locais não passam de um esquema mortal, institucionalizando a política de fome imposta pelas autoridades israelenses em Gaza, que começou em 2 de março, com o cerco total que impuseram à Faixa como parte da campanha genocida em curso.
A Autoridade Nacional Palestina advertiu que a nova operação israelense para entrar na Cidade de Gaza representa um “crime absoluto” e resultará no deslocamento forçado de pelo menos 800 mil palestinos já expulsos de outras áreas do enclave.
“Ela representa a continuação da política de genocídio, assassinatos sistemáticos, fome e cerco, e uma violação flagrante do direito humanitário e das resoluções de legitimidade internacional”, denunciou o governo palestino na Cisjordânia.
Em meio a essa situação, a Autoridade Nacional Palestina anunciou que iniciou “contatos urgentes com os órgãos internacionais relevantes”, incluindo o Conselho de Segurança da ONU, a Organização de Cooperação Islâmica e o Conselho da Liga dos Estados Árabes, “para solicitar medidas urgentes e obrigatórias para acabar com esses crimes”.
“A única maneira de acabar com essa tragédia e garantir a segurança e a estabilidade é permitir que a ANP, como autoridade do Estado palestino, assuma suas responsabilidades totais de governança e segurança na Faixa de Gaza”, concluiu o governo palestino.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, manteve conversas telefônicas nas últimas horas com o presidente e vizinho do Egito, Abdelfattah al-Sisi, e com o monarca jordaniano e garantidor dos locais sagrados de Jerusalém, Abdullah II.
O rei jordaniano “reafirmou a solidariedade de seu país” nessa situação e garantiu que seu país “está fazendo todo o possível para entregar ajuda aos palestinos em Gaza por todos os meios possíveis e sem obstrução ou atraso”, de acordo com a agência oficial de notícias jordaniana Petra.
Com informações da Europa Press
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