O centrão de mãos dadas com o crime organizado na Faria Lima
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Por Chico Vigilante*
Não é surpresa, mas é a confirmação de uma tragédia anunciada. A notícia de que os chefes do PCC enviaram sacolas de dinheiro vivo ao senador Ciro Nogueira, um dos pilares do chamado Centrão, é a fotografia nítida da simbiose entre a alta política e o crime organizado no Brasil.
Isso não é um desvio de conduta isolado. É a manifestação mais pura de um projeto de poder que se alimenta da corrupção, da promiscuidade com o mercado financeiro espúrio e do total desprezo pelo povo brasileiro. Enquanto a maioria sofre com o preço da gasolina e do alimento, uma elite política e criminosa urde esquemas bilionários nos salões de Brasília.
O recente caso publicado pela imprensa escancara a metamorfose do crime. O PCC, outrora uma facção carcerária, hoje possui braços financeiros sofisticados na Faria Lima, controla empresas de combustíveis e, o mais grave, compra influência diretamente no coração do Senado Federal. A operação Carbono Oculto já revelara a complexidade do esquema, mas a nova denúncia mostra seu destino final: o financiamento da corrupção política para garantir impunidade e blindagem por meio de leis sob encomenda e interferência em agências reguladoras.
É revoltante, mas previsível, que a suposta propina estivesse vinculada a dois fronts: a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e projetos de lei no Senado. Ciro Nogueira, não por acaso ex-ministro de Bolsonaro e ferrenho defensor do mercado financeiro, atuou precisamente para atender esses interesses escusos. Suas emendas ao projeto do “devedor contumaz” eram um presente de grego para as empresas de Primo e Beto Louco, pois buscavam esvaziar a lei e deixar na mão da própria ANP – alvo de lobby – a definição de quem é criminoso. É a legalização da fraude.
Este episódio é a face mais perversa do Centrão. Não se trata apenas de uma bancada fisiológica que negocia cargos e verbas, uma prática já por si só nefasta. Estamos falando de uma estrutura de poder que não faz distinção entre o lícito e o ilícito, entre o legítimo e o criminoso, desde que o fluxo de dinheiro e poder seja mantido. É a consolidação de uma organização onde o crime financia campanhas, compra políticos e dita a agenda do Congresso em prejuízo da nação.
Como parlamentar de esquerda e militante das causas populares, vejo com horror a normalização dessa conduta na política. Enquanto lutamos para garantir direitos sociais, saúde e educação, esses agentes do atraso dão as mãos a facções para fraudar o sistema tributário e sonegar bilhões que deveriam estar financiando hospitais e escolas. Cada real desviado pela Copape e pela Aster era um roubo direto aos cofres públicos, um assalto ao povo de São Paulo e do Brasil.
A solução exige mais do que uma operação policial, que é urgente e necessária. Exige uma reforma política profunda que extirpe o poder do capital criminoso das eleições. Exige o fim do financiamento privado de campanha, que abre as portas para todo tipo de dinheiro sujo. Exige que o Congresso Nacional faça um exame de consciência e corte o mal pela raiz, aprovando leis duras contra crimes econômicos e fortalecendo as agências de controle.
Por fim, é fundamental que a sociedade não se acostume com esse tipo de notícia. Não podemos permitir que a naturalização da corrupção e do crime nos paralisem. Devemos exigir, com toda veemência, que as investigações prossigam sem interferências, que todos os envolvidos sejam punidos exemplarmente e que este caso sirva como um marco para a purgação dessa cultura nefasta que assola Brasília. O povo brasileiro merece políticos que sirvam à nação, e não a chefes do crime organizado. A luta contra a corrupção é, e sempre será, uma luta de classe.
*Chico Vigilante é deputado distrital e lLíder do PT na CLDF
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