“A energia que existe no lixo serve para mover o camião”: como o biometano já é usado para a descarbonização

"A energia que existe no lixo serve para mover o camião": como o biometano já é usado para a descarbonização

A meio do prazo estabelecido pela União Europeia para o continente se tornar neutro em emissões de carbono, surgem várias alternativas na produção de eletricidade e combustíveis limpos e sustentáveis. A empresa Dourogás, com mais de duas décadas de existência, tem desenvolvido várias iniciativas para descarbonizar e promover a utilização de gases renováveis.

Um dos projetos desenvolvidos, apoiado pelo Fundo de Apoio à Inovação em 1,5 milhões de euros, atual Fundo Ambiental, transforma os biorresíduos em biometano, que é utilizado na mobilidade. Trata-se de “uma economia circular regenerativa” ao gerar eletricidade e ajudar a regenerar o planeta através da “captura positiva de CO2”, explica Nuno Afonso Moreira, presidente executivo da Dourogás.

A empresa participa ainda noutros projetos, como o H2Driven, apoiado pelo PRR, que tem como objetivo a “produção de metanol verde que se destina a alimentar navios de mercadoria”. Também integrou o consórcio do projeto Move2LowC, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do COMPETE 2020, focado na utilização de novos recursos, como biomassa aquática, para desenvolver novas soluções de mobilidade baixas em emissões de carbono.

Em que consiste o projeto Biogás Move?

É um projeto que está instalado num aterro sanitário na Resíduos do Nordeste, em Mirandela, que tem também uma central de valorização orgânica com um digestor e ali é produzido biogás. Esse biogás era utilizado, sobretudo, para produzir eletricidade. [Mas] dada a vantagem do ponto de vista de rendimento do sistema de purificação e de produção de biometano, um biogás limpo que assume características iguais ao gás natural e pode ser utilizado em qualquer utilização de gás natural, colocámos um sistema de limpeza [deste gás], o primeiro em Portugal. Fizemos a injeção na rede e a utilização também em veículos.

Neste projeto um camião vem com resíduos de lixo urbano, descarrega-os naquela unidade, são tratados pela Resíduos do Nordeste, uma empresa pública, que nos entrega depois o biogás proveniente desse resíduo, que nós tratamos, limpamos e metemos no depósito do camião. Portanto, a energia que está contida no lixo serve para mover o camião, ir buscar mais resíduo e ainda sobra. É um projeto não apenas de sustentabilidade, mas de recuperação.

Quais as vantagens deste processo?

A eletricidade tem cerca de 33% a 35% de rendimento, [enquanto] o biometano chega a ter 95%. Isto é, quanto à [transformação da] energia contida naquele resíduo para biometano, conseguimos aproveitar 95%, para eletricidade só conseguimos aproveitar 35%. Essa é a grande vantagem e que dá também, obviamente, uma vantagem económica ao aproveitamento daquele resíduo.

Aliás, nós consideramos que o biometano é a solução para o problema de biorresíduos que existe em Portugal, que tem uma dificuldade grande no aproveitamento destes. Neste momento, muitos destes [resíduos] vão para aterro, mas os aterros estão a terminar e também existem regras europeias que deixam de permitir que tal seja feito.

É uma economia circular?

Nós falamos em economia circular regenerativa, porque não é só circular. Dessa economia circular vai sair ainda energia, o que faz com que seja regenerativa para o planeta. Eu creio que é também importante não pensarmos apenas na circularidade, mas irmos um pouco mais além e falarmos em regenerar o planeta do ponto de vista de uma captura positiva de CO2, que deixa de ir para a atmosfera e passa a ser utilizada em prol da economia e das pessoas.

A técnica desenvolvida resulta apenas em biorresíduos?

É possível fazer com biorresíduos, [mas] temos, em parceria com uma outra empresa, um projeto [HyFuelUp, financiado pelo Programa Horizonte Europa] no centro do país, em Tondela, onde estamos a fazer a gasificação da biomassa para produzir biometano. São processos um pouco mais exigentes, que têm capital intensivo mais significativo e para o valor que é atribuído, de momento, ao biometano não são economicamente rentáveis, é preciso fazer em maior escala para se conseguir. Mas o nosso objetivo é determinar quais são os fatores do ponto de vista tecnológico e do ponto de vista económico. Esperamos até o final de 2025 ter o projeto pronto e podermos atuar e ter no futuro projetos de maior envergadura.

A longo prazo, o objetivo é replicar esta unidade em mais cidades do país?

Existem muitos resíduos, existe uma quantidade de biorresíduos muito significativa e quando entramos na agropecuária mais ainda. Portanto, teremos oportunidade para instalar unidades muito significativas. Por exemplo, na Dinamarca, 40% do gás que consome já é biometano e, em França, estão a ser instaladas cerca de três unidades de biometano por semana, são cerca de 150 por ano já há três anos consecutivos – 2022, 2023 e 2024. A França já tem mais de 800 unidades de produção de biometano. Portanto, estudos revelam que, facilmente, Portugal chega a uma cota de 15% de substituição de gás natural por biometano e que pode chegar rapidamente. Do ponto de vista da mobilidade pesada e da indústria de elevada temperatura, que consome muito gás, cerca de 60% do gás consumido por esta indústria em Portugal não é convertível em eletricidade, quando este gás é usado em fornos de elevada temperatura. É inviável do ponto de vista técnico e do ponto de vista também económico. Portanto, nós acreditamos que o biometano tem aqui um espaço grande e é para hoje.

Quais são outros projetos na área da descarbonização que a Dourogás desenvolve?

Temos ainda um conjunto de projetos de produção de hidrogénio verde e injeção na rede de gás natural para os quais estamos a desenvolver e a seguir as iniciativas dos apoios comunitários para tentarmos que sejam rentáveis e que economicamente não deem prejuízo. Portanto, esse é o principal objetivo destes projetos de inovação e projetos empresariais que têm bastantes dificuldades de implementação do ponto de vista económico. Embora tenham sido lançados leilões para a compra centralizada de hidrogénio, que ajudam um pouco essa rentabilidade, têm de ser conjugados com a venda de hidrogénio em mercado, para a qual temos tido alguma dificuldade em captar clientes. Ainda estamos em busca disso e estamos a falar muito com a indústria na expectativa de podermos fazê-lo. Portanto, nos próximos 30 anos estamos muito entretidos a fazer estes e outros projetos que venham. Na Dourogás, a inovação é o fator principal de competitividade.

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