Empresários moçambicanos receiam ficar fora da retoma da TotalEnergies
“O fornecimento vai ser via aérea e via marítima. Se é via aérea, o setor privado local, em particular da província de Cabo Delgado, está em condições de transportar as suas mercadorias via aérea, via marítima?”, questionou, em declarações à Lusa, Mamudo Irache, presidente do conselho empresarial daquela província do norte.
“Temos medo de ficar fora do projeto”, diz, apontando que as atividades envolvendo o pessoal da TotalEnergies fora do complexo é que “deixavam dinheiro para os empresários locais”.
Em causa está a previsão, avançada pela TotalEnergies, líder do consórcio da Área 1, de retoma a partir de agosto do megaprojeto de produção e exportação de Gás Natural Liquefeito (GNL), de 20 mil milhões de dólares, em Afungi, suspenso desde 2021 devido aos ataques de extremistas islâmicos.
Contudo, os empresários locais dizem ter sido informados que o fornecimento de bens e serviços ao complexo será feito apenas por via aérea e marítima, e não terrestre, por questões de segurança.
“Tem um empresário que está em Moeda, tem um empresário que está em Macomia, tem um empresário que está em Chiúri [distritos do interior de Cabo Delgado], que não tem acesso ao mar. Como é que vai fazer?”, questiona Irache.
O governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, assumiu à Lusa a expectativa com o eminente regresso da TotalEnergies, mas também que não acredita na possibilidade de os empresários locais ficarem de fora.
“Nós temos a certeza que a Total não vai se fechar”, afirmou, acrescentando: “Estamos em crer que alguma coisa pode ter havido em termos de comunicação, de um entendimento na comunicação, mas temos a fé que pela parte Total não é o querer se fechar, como possa ter sido entendido”.
E garante ainda que as preocupações da petrolífera ao adotar algumas medidas mais restritivas são com a segurança, do complexo e dos trabalhadores. “É o que a Total está a puxar, primeiro na questão de segurança (…), para que ela, ao retomar, retome com todos os cuidados necessários e o Governo também vai fazendo a sua parte”, garantiu.
Já para os empresários, as preocupações passam ainda pela possibilidade de os trabalhadores ficarem isolados no interior do complexo, sem um contacto com o exterior que impulsione os negócios.
“Eles deviam viver na comunidade. Eles trabalham lá, voltam para a comunidade, aproveitavam alugar as pensões que estão ali, as casas que foram construídas para esse propósito, aproveitavam fazer a comida típica da comunidade”, conta o representante dos empresários de Cabo Delgado.
Assim, diz, terminam “os 15 ou 20 dias que eles ficam lá de trabalho”.
“E o empresário local, o que vai aproveitar?”, interroga-se.
De viaturas, apoio logístico ou alimentação a material de construção, os empresários de Cabo Delgado garantem que estão prontos para ser fornecedores.
Para o governador de Cabo Delgado, após a paragem do projeto, “a expectativa é a maior” em torno do regresso da TotalEnergies ao projeto.
“Cabo Delgado estava a evoluir, o ambiente era outro, a esperança era outra. E depois, quando houve a declaração de ‘força maior’ [suspendendo o projeto], devido às incursões dos extremistas, então, é óbvio que drasticamente todo o movimento de esperança que havia foi abaixo (…). E quando já se cria a possibilidade de se retomar, então a expectativa é maior”, disse ainda Tauabo.
“Vai catapultar mais uma vez a esperança psicológica e também a esperança de que através do trabalho, através dessa retoma, vai haver uma cadeia de valor é aí onde está o bem-estar de todos, porque vão haver empresas subcontratadas, vão haver empresas que vão oferecer alguns serviços uns aos outros, os nossos hotéis vão estar ocupados, os quartos que nós temos aqui e também o turismo, assim como todos os serviços, tudo aquilo que está na área empresarial, há de haver espaço para se oferecer serviços”, defende.
Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Desde outubro de 2017, a província , rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico, que chegaram a provocar mais de um milhão de deslocados, incluindo 349 mortos só em 2024, segundo dados do Centro de Estudos Estratégicos de África, instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano que analisa conflitos em África.
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