Que impactos terá retoma do projeto da Total? – DW – 04/04/2025
O anúncio do financiamento para a construção do projeto de gás natural, liderado pela TotalEnergies, reacendeu expetativas quanto à retoma das operações na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, província do extremo nordeste de Moçambique. Apesar da insegurança persistente na região, académicos consideram improvável que novos episódios de violência voltem a travar um dos maiores projetos de produção de gás em África.
Em meados do mês de março, o Banco de Exportação-Importação norte-americano (EXIM) aprovou o empréstimo de cerca de 4,2 mil milhões euros para financiar a construção do projeto de gás natural na área 4 da bacia do Rovuma, operado pela petrolífera francesa TotalEnergies.
Académicos na província de Cabo Delgado, onde o projeto de GNL deverá ser desenvolvido, não têm dúvidas que os recentes desenvolvimentos dissipam as incertezas sobre o reinício dos trabalhos da Total em Afungi, paralisados desde 2021 com a ativação da cláusula de força maior devido ao escalar da violência terrorista.
Frederico João, académico e presidente do Fórum das Organizações Não-governamentais de Cabo Delgado (FOCADE), vê sinais de confiança dos investidores. “São sinais de que o projeto pode avançar, sinais de confiança dos próprios financiadores de que o projeto tem pernas para andar”, afirma.
Por seu lado, o académico Zito Pedro entende que o financiamento do EXIM vem garantir que a exploração de gás natural na bacia do Rovuma é um dado adquirido. “É uma injeção que vem provavelmente aliviar a tensão interna sobre a possível ou não continuidade dos investimentos da bacia do Rovuma”, reforça.
Terroristas intensificam incursões
Ainda não há datas para o arranque dos trabalhos em Afungi. Entretanto, apesar do financiamento norte-americano para a prossecução do projeto, a insegurança prevalece na província de Cabo Delgado. Os terroristas têm intensificado as suas incursões ao longo da Estrada Nacional 380 e em aldeias do distrito de Ancuabe.
Foi o ataque em grande escala à vila de Palma em 2021 que obrigou a TotalEnergies a suspender as suas operações e a desmobilizar os seus trabalhadores. Estariam agora criadas as condições de segurança para a retoma dos trabalhos que culminarão com a exploração do gás de Rovuma? Foi a questão que a DW colocou aos académicos Vasco Achá e Zito Pedro.
“Não há novidade nenhuma de a Total vir a funcionar mesmo nas atuais condições de insegurança ou com o seu agravamento”, diz Vasco Achá. “Em muitos territórios do mundo onde existe um megaprojeto de petróleo é normal haver grupos armados a operar ao redor respondendo diversos interesses”, acrescenta.
Zito Pedro adianta que a maior parte dos países onde há exploração do gás, as multinacionais trabalham sob fogo. Admite que Moçambique não fugiu muito à regra. “Se efetivamente houve essa comunicação pública de financiamento, acredito que deve ter sido feita uma avaliação interna positiva”, conclui.
Zito Pedro afirma que, face à altura em que a TotalEnergies se viu obrigada a paralisar as operações, existiu uma melhoria significativa das condições de segurança em Cabo Delgado.
“Agarrar” oportunidades
No entanto, Vasco Achá nota um reacender da violência, sobretudo depois dos novos desenvolvimentos sobre o financiamento à Total. “Aqui, logo após o anúncio do financiamento, houve o agravamento considerável das condições de segurança na Estrada Nacional 380, que é a principal estrada de meios logísticos Palma”, identifica. “Voltou-se a questões antigas como ataques a colunas de viaturas, sequestros e pedido de resgate de reféns”, lembra Vasco Achá.
Ao se confirmar o arranque de um dos maiores projetos de exploração de gás em África, Cabo Delgado e Moçambique em geral sairão a ganhar, diz Frederico João. O académico moçambicano exorta o empresariado a “agarrar” as oportunidades que advirão do desenvolvimento efetivo da produção do gás.
“É preciso que o empresariado local se una e trabalhe em consórcio, só assim é que poderá usufruir dessas oportunidades”, aconselha. “Se os empresários trabalharem cada um [por si, isso] vai redundar num fracasso porque a ordem do dia agora é mesmo trabalharmos em conjunto”, adverte.
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