IPCA dispara para 5,35% e Banco Central alerta: inflação pode seguir fora da meta até 2026 –
O Banco Central divulgou, na noite desta última quinta-feira (10), uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para explicar o descumprimento da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). É a primeira vez que o novo regime de meta contínua, em vigor desde 2025, é desrespeitado.
Segundo o BC, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permanecer acima do teto da meta, a autarquia reforçará a comunicação sobre as causas do descumprimento, as medidas adotadas e o andamento do processo de convergência da inflação.
IPCA em 12 meses atinge 5,35% e estoura meta
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA acumulado em 12 meses chegou a 5,35% em junho. O número supera em 0,85 ponto percentual o teto da meta de inflação fixado em 4,5% para 2025. É o nono mês consecutivo em que a inflação ultrapassa o limite superior da meta, embora a nova regra de meta contínua tenha começado a valer apenas este ano.
A carta do BC não detalha quando a inflação deve retornar ao centro da meta, de 3%, mas projeta que o índice deve cair abaixo do intervalo de tolerância apenas no fim do primeiro trimestre de 2026. A instituição também afirmou que poderá divulgar novas cartas explicativas caso o IPCA continue fora da meta ou se houver necessidade de revisar as projeções e estratégias.
Carta aberta aponta compromisso com metas e transparência
No documento, o Banco Central reforça o compromisso com o regime de metas para a inflação e ressalta que continuará adotando as ações necessárias para garantir o retorno do IPCA ao intervalo definido pelo CMN. A carta também indica que a autoridade monetária pretende manter a sociedade informada de forma constante durante esse período, como forma de reforçar a previsibilidade e a credibilidade da política monetária.
“Divulgaremos nova carta, caso a inflação não retorne ao intervalo de tolerância no horizonte esperado ou consideremos necessário atualizar as medidas ou o prazo para o retorno da inflação à meta”.
Pressões inflacionárias persistem em setores essenciais
Apesar da leve desaceleração da taxa mensal — que ficou em 0,24% em junho, abaixo dos 0,26% registrados em maio — o índice veio acima das projeções do mercado financeiro, que esperavam uma taxa próxima a 0,20%. No ano, a inflação acumulada é de 2,99%.
Segundo o IBGE, a alta de junho foi puxada principalmente pelos grupos habitação (0,99%) e transportes (0,27%). A conta de luz, por exemplo, subiu 2,96% com o retorno da bandeira vermelha patamar 1, representando o maior impacto individual do mês (0,12 p.p.). Também pesaram no IPCA os reajustes nos preços do transporte por aplicativo (13,77%) e do conserto de veículos (1,03%).
O único grupo com deflação foi o de alimentação e bebidas (-0,18%), enquanto o setor de educação registrou estabilidade (0%).
Nova política, velhos desafios
A regra de meta contínua, adotada a partir de janeiro de 2025, estabelece que o Banco Central deve mirar a inflação acumulada em 12 meses — não mais apenas no fechamento do ano. Essa mudança exige que a política monetária seja mais preventiva e reativa a choques inflacionários prolongados. Com o IPCA já há 9 meses acima do limite superior, o episódio de junho marca o primeiro envio formal de carta explicativa dentro dessa nova estrutura de metas.
A última vez que a inflação havia ficado abaixo do teto de 4,5% foi em setembro de 2024, quando marcou 4,42%. Desde então, os preços vêm pressionados por choques tarifários, reajustes em serviços e instabilidades no mercado de trabalho, fatores que têm dificultado a tarefa do BC de manter a inflação sob controle.
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