Termelétricas gaúchas são campeãs de emissão de gases de efeito estufa no país
Duas termelétricas rio-grandenses encabeçam a escala das usinas que mais emitem gases de efeito estufa por energia gerada no Brasil. Candiota III e Pampa Sul, ambas em Candiota, cidade com pouco mais de 9 mil habitantes na região da campanha gaúcha, são respectivamente a primeira e a segunda planta que mais lançam dióxido de carbono na atmosfera em relação aos gigawatts-hora gerados.
O Rio Grande do Sul é o estado com maior volume de emissões de gases de efeito estufa (GEE) originados a partir da produção de energia por usinas termelétricas, que podem utilizar carvão, gás natural ou óleo diesel, por exemplo. O estado, no entanto, fica fora da lista dos maiores emissores de GEE, encabeçada por Pará e Mato Grosso
Embora as termelétricas gaúchas estejam entre as maiores emissoras, elas não são as usinas de combustíveis fósseis que mais produzem energia no país. Candiota III é a quinta colocada, com 1.859 gigawatts-hora (GWh), e Pampa Sul está na sétima posição, com 1.526 GWh. Os dados são do 4º Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas, lançado na quinta-feira (19) pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), com informações do ano de 2023.
Em volumes absolutos, as usinas do município de Candiota ocupam a primeira (Candiota III) e terceira posição (Pampa Sul) entre as termelétricas que mais emitem gases de efeito estufa. Em segundo lugar fica a planta de Jorge Lacerda IV, do município de Capivari de Baixo, região sul de Santa Catarina. Mauá 3, em Manaus, e Termorio, em Duque de Caxias (RJ) ocupam a quarta e a quinta posição. Esses números colocam o município da campanha gaúcha como o maior emissor por produção de energia de termelétricas no país.
As plantas de Candiota queimam carvão produzido no próprio município, o que explica a alta taxa de emissão de GEE e menor eficácia na comparação com outras usinas no país. A cidade possui cerca de 40% das reservas nacionais do mineral. “As usinas do sul utilizam carvão nacional, que tem menor poder calorífico do que as usinas do nordeste, que utilizam carvão importado. Essa matéria-prima importada é capaz de gerar mais energia por tonelada consumida, e por isso é mais eficiente e também possui menos taxas de emissão”, explica Raissa Gomes, coordenadora do estudo e pesquisadora do IEMA.
Das dez usinas brasileiras que mais lançam na atmosfera gases de efeito estufa, nove têm o carvão como fonte energética. Os dados coletados pelo IEMA apontam a ineficiência de usinas que empregam o carvão mineral como combustível – essas plantas tiveram média de eficiência de apenas 33% em 2023.
Parque termelétrico brasileiro está emitindo mais por gigawatt-hora gerado
As termelétricas do Sistema Interligado Nacional emitiram 4,8% gases de efeito estufa a mais por gigawatt-hora (GWh), em 2023, em comparação ao ano anterior, de acordo com os dados do IEMA: foram emitidas 671 toneladas de gás carbônico por gigawatt-hora gerado (tCO2e/GWh). Em 2022, o número era de 641 tCO2e/GWh. O perfil menos eficiente no ano passado se deu porque as usinas a carvão operaram por mais tempo, enquanto outras, mais eficientes, foram menos acionadas.
“Devido aos maiores níveis de água de reservatórios para geração hidrelétrica e da ascensão de fontes renováveis, 2023 foi um ano de baixo acionamento de termelétricas. Mas, em períodos de estiagem, como ocorreu este ano de 2024, a geração dessa modalidade aumenta e, como consequência, as emissões são maiores também”, ilustra Raissa Gomes.
De acordo com o IEMA, a matriz elétrica brasileira passa por uma transição marcada pela “crescente participação de fontes renováveis não hídricas, como biomassa e eólica, e pela expansão do uso de combustíveis fósseis”. A geração solar apresentou um aumento de 68% em um único ano e um impressionante crescimento acumulado de 661% nos últimos cinco. A hidroeletricidade continua sendo a principal fonte da matriz elétrica brasileira, respondendo por 60% de toda a eletricidade gerada em 2023.
PL aprovado no Senado beneficia termelétricas a carvão
Apesar de investir cada vez mais em fontes renováveis, o Brasil também dá passos na direção oposta. O plenário do Senado aprovou, na semana passada, um projeto de lei que regulamenta a produção de energia por meio de usinas eólicas em alto-mar, o chamado PL das Eólicas Offshore. Embora destinado a incentivar a diversificação da matriz energética, o texto recebeu emendas consideradas “jabutis” – isto é, que foram colocadas na mesma proposta, mas tratam de tema distinto – que beneficiam a geração de energia a carvão e gás. O PL incluiu a postergação até 2050 dos contratos de termelétricas a carvão, que pela legislação em vigor terminariam em 2028.
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