Empresas aceleram para produzir combustível sustentável de aviação em 2027 | Revista Inovação

Empresas aceleram para produzir combustível sustentável de aviação em 2027 | Revista Inovação

As primeiras unidades produtivas de combustível sustentável de aviação (SAF) no Brasil estão previstas para entrar em operação comercial até 2027. Os projetos mais avançados são da Petrobras, da Acelen e da Refinaria de Petróleo Riograndense (RPR), mas vários grupos industriais já anunciaram que desenvolvem iniciativas para entrar nesse mercado, entre eles a Copersucar em parceria com a Geo Bio Gas&Carbon.

Os investimentos estão sendo estimulados em decorrência do compromisso assumido pelas companhias aéreas junto à Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, na sigla em inglês) de reduzir progressivamente suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) a partir de 2027 até zerar as emissões líquidas de carbono em 2050. A aviação civil é responsável por 2% das emissões globais de dióxido de carbono equivalente (CO2e) e é tida como uma das atividades mais difíceis de descarbonização.

O SAF é um combustível produzido com insumos como óleos vegetais, óleo de cozinha usado, resíduos agrícolas e etanol, e é drop-in, ou seja, pode substituir o querosene de aviação, um derivado de petróleo, sem que haja necessidade de nenhuma adaptação nos motores das aeronaves. A ideia, em um primeiro momento, é que o SAF seja misturado ao querosene, podendo no futuro chegar ao abastecimento de 100% das aeronaves.

Tolmasquim, da Petrobras: planta de biorrefino com tecnologia HEFA e estudos com a tecnologia ATJ — Foto: Francisco de Souza/Valor

No Brasil, a Lei do Combustível do Futuro (Lei nº 14.993/24), sancionada em outubro, criou o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV), que tem o objetivo de fomentar a indústria do SAF e estipulou que as companhias aéreas deverão reduzir suas emissões em 1% em 2027 e ampliar a redução progressivamente até 10% em 2037.

Uma demonstração do interesse da indústria brasileira em produzir SAF pôde ser observada em novembro, quando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) receberam as propostas para uma chamada pública de R$ 6 bilhões para financiar negócios em biorrefinarias. As propostas apresentadas somaram R$ 167 bilhões, sendo 43 projetos no valor de R$ 120 bilhões para a produção de SAF.

“O Brasil reúne condições objetivas de se posicionar entre os líderes globais da produção de SAF”, diz Ana Mandelli, diretora-executiva de downstream do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP). “Temos know-how em biocombustíveis e uma boa oferta de insumos.”

A Petrobras já deu o pontapé para a implementação de uma primeira planta de biorrefino na Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão (SP), com produção prevista de 15 mil barris por dia (bpd) de SAF e diesel renovável (HVO). Os insumos previstos são óleo vegetal e gordura animal. A biorrefinaria utilizará tecnologia conhecida como HEFA (Ésteres Hidroprocessados e Ácidos Graxos) fornecida pela Honeywell UOP. A previsão é que esteja operacional até 2027.

Mendonça, da Acelen: pesquisas sobre produção de sementes de macaúba no centro de inovação — Foto: Divulgação

A petroleira planeja replicar a tecnologia em uma segunda biorrefinaria com capacidade para 19 mil bpd no Complexo de Energias Boa Ventura, o antigo Comperj, em Itaboraí (RJ). “Também realizamos estudos para o desenvolvimento de outras cadeias de matérias-primas de origem renovável e baixa intensidade de carbono, como o etanol”, diz Maurício Tolmasquim, diretor de transição energética e sustentabilidade da Petrobras.

O SAF de etanol pode ser produzido com a tecnologia ATJ (alcohol-to-jet), já desenvolvida, mas sem nenhuma unidade em escala industrial no mundo. Os estudos da Petrobras são para uma unidade de 10 mil bpd na Refinaria de Paulínia (SP), a Replan.

A Acelen, empresa do fundo Mubadala Capital, que controla a Refinaria de Mataripe, na Bahia, programa um investimento de US$ 3 bilhões em uma biorrefinaria com capacidade para produzir um bilhão de litros por ano de SAF e diesel renovável na Bahia, com o objetivo de atender o mercado nacional e exportar. O projeto de engenharia está em fase final de conclusão. “Ano que vem, começarão as obras de implantação, com previsão de estar operacional no início de 2027”, diz Luiz de Mendonça, CEO da Acelen.

A biorrefinaria utilizará óleos vegetais como insumo. O plano da Acelen é concentrar esforços no aproveitamento do óleo de macaúba, palmeira de alto poder energético, bastante utilizada na recuperação de pastagens degradadas. “A macaúba tem vários pontos positivos. Não é uma cultura alimentar, auxilia na recuperação do solo degradado, aumenta a biodiversidade e ainda captura carbono”, diz Mendonça.

A companhia está construindo um Centro de Inovação Tecnológica Agroindustrial (Acelen Agripark), em Montes Claros (MG), para o desenvolvimento da germinação, produção de sementes e mudas. O projeto prevê o cultivo de macaúba em 180 mil hectares de pastagens degradadas em Minas Gerais e na Bahia, sendo 20% das plantações em parceria com agricultores familiares. A projeção é que as florestas de macaúba capturem 60 milhões de toneladas de CO2e.

A Refinaria Riograndense, em Rio Grande (RS), assinou em novembro com a dinamarquesa Topsoe contrato para o fornecimento de tecnologia para a construção de uma biorrefinaria que terá capacidade de processar 800 mil toneladas por ano de óleos vegetais e gordura animal para a produção de SAF e diesel renovável. O investimento é estimado em US$ 900 milhões e a previsão é o início das operações comerciais em 2028.

A Raízen, com etanol, a Brasil BioFuels (BBF), com óleo de palma, e a Be8, com óleo vegetal, são outras companhias que também desenvolvem planos para entrar no mercado de SAF.

Em São Paulo, a Copersucar e a Geo Bio Gas&Carbon programam uma parceria para a produção de SAF a partir de biometano obtido com resíduos agroindustriais de usinas de cana-de-açúcar. Fontes próximas da Copersucar confirmaram que as negociações estavam avançadas em meados de novembro, mas o contrato ainda não havia sido assinado.

A redução das emissões de GEE na aviação também pode ocorrer por meio do aperfeiçoamento dos motores, pelo uso de novos materiais que reduzam o peso das aeronaves ou do planejamento mais eficiente de rotas. No futuro, a expectativa é que o desenvolvimento de novas tecnologias, como o hidrogênio combustível e a eletrificação das aeronaves, também colabore com a meta.

“O SAF é uma tecnologia já disponível e não demanda nenhuma adaptação nos motores ou na estrutura de abastecimento das aeronaves”, diz Mandelli. Para a diretora do IBP, o uso do SAF deverá responder por 80% da redução de emissões das aeronaves até 2050.

Para uma companhia aérea alcançar uma redução de 1% nas emissões de carbono do voo, é necessária uma mistura de 4% de SAF obtido com óleo de soja no querosene convencional ou de 2% de SAF de etanol.

O consumo mundial de querosene de aviação é estimado em aproximadamente 400 bilhões de litros por ano, e o SAF hoje responde por 1,5% da demanda global. No Brasil, o consumo de querosene de aviação está na casa de sete bilhões de litros ao ano e o país precisará, segundos cálculos do IBP, de uma oferta de 280 milhões de litros em 2027 para atender à necessidade das empresas áreas de descarbonizar 1% dos voos.

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